terça-feira, 16 de junho de 2009

Vírus da nova gripe encontrado em SP é diferente do ‘original’, diz secretaria

Sequenciamento apontou mutação em proteína do vírus.
Isolamento mostra variante em relação ao sequenciado nos EUA.

Juliana Cardilli e Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo


O Instituto Adolfo Lutz, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, anunciou nesta terça-feira (16) que o vírus da nova gripe encontrado em pacientes infectados no estado é ligeiramente diferente do encontrado na Califórnia, Estados Unidos, o primeiro a ser isolado depois do aparecimento da doença. A descoberta foi feita a partir do sequenciamento e isolamento do vírus coletado de um paciente detectado com a doença em São Paulo, que contraiu o patógeno no exterior. O “novo” vírus foi batizado como Influenza A/São Paulo/H1N1.

De acordo com a secretaria, o vírus sequenciado em São Paulo tem uma mutação na proteína hemaglutinina – que é a responsável pela capacidade do vírus de invadir as células humanas. Essas informações e toda a caracterização genética do vírus são fundamentais para a elaboração de vacinas, por exemplo, e para investigar se houve outras mutações em outras partes do mundo. A hemaglutinina é especialmente importante porque os anticorpos que protegem o organismo contra a entrada do vírus são produzidos como forma de contra-atacar essa proteína.

Trata-se, no entanto, de um passo inicial para a produção da vacina. É preciso agora caracterizar o vírus em outros pacientes para se chegar à formulação mais adequada para impedir a propagação da variedade mais comum. Só então pode começar a produção de imunizantes, um processo que envolve o uso de ovos de galinha para multiplicar o vírus e demora alguns meses.

Variação esperada

A variação da cepa americana original para a brasileira é esperada, já que o material genético do vírus da gripe (formado por RNA, o "primo" menos famoso do DNA) sofre mutações com frequência, além de se misturar o tempo todo com outras cepas de gripe já presentes em humanos ou mesmo animais como porcos e aves. A diferença entre o vírus brasileiro e o californiano, mesmo assim, é discreta. No caso do chamado segmento 4 (pedaço do material genético do vírus no qual se encontra o gene da hemaglutinina), a semelhança é de 99,7% -- ou de 99,5%, quando se considera a proteína, e não o RNA que serve de "receita" para ela.

“Faz parte do monitoramento do vírus influenza rastrear essas mutações. Elas são esperadas e frequentes. Neste caso, essas mutações aparentemente não mudam a resposta ao anticorpo. Não é a parcela principal do vírus que induz à produção do anticorpo que mudou”, explicou Clélia Aranda, coordenadora de Controle de Doença da secretaria.

Por isso, a vacina que já está sendo desenvolvida para a nova gripe a partir do sequenciamento nos Estados Unidos pode servir para o encontrado no Brasil. “A proteína da matriz é igual. Identificamos pequenas mudanças na hemaglutinina. É possível vislumbrar que as alterações não sejam grandes e que a vacina possivelmente será protetora para ele”, explicou.

“Com esse estudo, é possível comparar os dados com tudo o que foi publicado e poder monitorar por onde circula esse tipo de vírus, vendo as similaridades. Essa identificação contribui para a composição das vacinas. Faz parte de um mapeamento genético feito no mundo todo”, explicou Aranda. A secretaria também salientou que os outros pacientes identificados com a doença em São Paulo tiveram os vírus extraídos, isolados e encaminhados para o sequenciamento. O anunciado nesta terça foi o primeiro a ser extraído.

Foto: Divulgação

Estrutura característica da 'carapaça' do vírus (Foto: Divulgação)

Além do sequenciamento, os pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz também conseguiram fotografar o vírus da gripe A H1N1. As imagens foram feitas por um aparelho que tem capacidade de ampliar as imagens em 1 milhão de vezes. Neste caso, ela foi aumentada 200 mil vezes, para que a equipe pudesse fazer a análise morfológica do vírus.

Foto: Divulgação

Micrografia do vírus isolado em SP (Foto: Divulgação)

Os pesquisadores ressaltaram que ainda não é possível saber se essa mutação torna o vírus mais ou menos forte, e que sequenciamentos feitos em outros países – como China - já haviam identificado a mutação encontrada em São Paulo. Desde o início da propagação da doença, que foi reclassificada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde, foram registrados 27 casos em São Paulo, enquanto outros 21 pacientes seguem sendo monitorados com suspeita da doença.

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